STATUS

21 março 2006

BOM DIA VIETNÃ

meninos do tráfico ou meninos do Brasil?

Ontem estava assistindo o fantástico e vi aquele documentário sobre os meninos do tráfico, aonde os próprios meninos contam a sua história, não como naqueles casos aonde relatamos nossas idéias e as imagens que fazemos sobre eles e o seu dia-a-dia, naquele documentário eles falam de si mesmos, uma realidade crua e nua, vivida nas favelas do Brasil.

Em alguns momentos mostra a fragilidade destes meninos quando, por exemplo, o menino de 17anos relata o seu maior sonho, que para surpresa de todos era o de conhecer um circo, ou a ausência de expectativas quando o menino de +/- 10 anos que diz que se morrer nascerá outro melhor ou igual ou pior do que ele.

Vejo nestes meninos o retrato da escravidão ainda nos dias de hoje, mas isso não justifica a conduta ou o caminho que eles fazem para alcançar algum status, mas prova que a escravidão mental a qual o nosso país nos empurra goela abaixo, não permite que estas crianças sonhem um algo possível, um sonho regado de esperança, o fato é que esta já nem existe no meio deles, por isso vivem da forma que estão abandonados pelo pai na maioria das vezes, ignorados pela sociedade, desprezados pelo poder público, violentados pela polícia e acolhidos pelo trafico, uma família que propõe conhecimento, condição financeira, reconhecimento da comunidade, da polícia e talvez da mídia, dinheiro, fama, glamour e em conseqüência mulheres, o seu espelho não é mais a televisão, talvez seja aquele traficante que tem o poder no seu bairro, na sua comunidade, ou então aquele espelho quebrado que alguns supersticiosos afirmam dar azar, e isso tem sido perpetuamente, pois estão condenados à morte nesta prisão perpétua que é o crime, aonde só não sabem a hora, nem quando, mas certamente “logo” estarão mortos, um sentimento comum entre eles e eu já vivi isto é que se chegar aos 18anos vai parar exército talvez, mas a maioria deles não para, outros sonham em passar dos 18anos que daí não morreriam mais tão cedo ou tão fácil, como se adulto tivesse algum poder, e isso no meio deles é muito normal, pois a violência que estes meninos sofrem pelos adultos desde a sua infância é absurdo, seja o pai chegando embriagado e batendo na mãe, seja a irmã sendo violentada pelo padrasto, a mãe agredida todos os dias pelo racismo no trabalho, a polícia que lhes tira o sono interrompendo a madrugada pra dar geral na sua casa, sons de tiros nas ruas, a adrenalina no ar, ou a televisão mostrando o um mundo que ele não vive não conhece, não vive e nem sabe que existe.